JOSELY CARVALHO
multimedia artist
Dados históricos: canhão 21 - nº SIGA 015900
Assim como o canhão 3, essa colubrina nº 21 equipou o Real Forte Príncipe da Beira hoje em ruínas na margem do rio Guaporé em Rondônia, Brasil. Esse forte, considerado o monumento mais antigo do estado, foi construído em 1775 por um engenheiro e auxiliar de infantaria genovês que morreu durante a construção vítima de malária, doença que atingiu muitos daqueles que participavam da obra.
Na Proclamação da República em 1889 o forte foi abandonado gerando um intenso processo de sucateamento e esquecimento. No início do século XX, a edificação foi "redescoberta" pelo militar e sertanista Marechal Rondon. Em 1937 o exército enviou o sétimo batalhão de fronteira para ocupá-lo e em 1950 o forte, o maior marco da colonização nos Vales da Madeira e Guaporé, foi tombado historicamente.
Hoje, a comunidade quilombola que habita os arredores do forte descende de negros e índios escravizados que construíram a fortaleza. O exército reclama a posse das terras alegando área de segurança nacional. Segundo relatos das lideranças da comunidade no mini doc 'Aquarteladas', os militares impedem que desenvolvam agricultura familiar, ameaçam desocupá-los e não estabelecem diálogo.
Se existe uma ameaça visível de apagamento histórico-cultural desses povos, é necessário valorizar suas manifestações, costumes e suas histórias. Segundo o historiador Sílvio do Nascimento, a cultura local destas comunidades ribeirinhas ainda é recheada de histórias que inspiram mistério. As duas relatadas por Nascimento envolvem assombrações, aludindo ao sofrimento dos escravos envolvidos na construção do forte.
As narrativas do imaginário popular possibilitam criar maneiras de enraizamento cultural-histórico. Portanto, ao valorizar a relação com o espaço que se vive, constrói-se o ser-histórico capaz de revisitar, compor e desviar os cursos para uma História plural, heterogênea e generosa.
Curiosidade: Colubrina é um tipo de canhão que servia como artilharia naval à longa distância.
fragrância: Poeira PBG088NPB
O cheiro de poeira carrega a memória das fortalezas destruídas pelas invasões. Ele penetra o nariz provocando coceira. Sua textura é arenosa criando um desconforto físico na garganta. Quantas moradias, fortes, edifícios foram destruídos desde o início da colonização deixando comunidades sem terra? Um cheiro que nos traz memórias poeirentas da história brasileira.