JOSELY CARVALHO
multimedia artist
Dados históricos: canhão 17 - nº SIGA 015903
O Obuseiro nº 17 foi manufaturado em oficina italiana para ser usado contra as potências centrais, Áustria e Alemanha no norte da Itália durante a Primeira Guerra Mundial. Este obuseiro fez parte do pavilhão italiano na Exposição Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil em 1922 quando foi doado pelo rei da Itália Victor Emmanuel ao Museu Histórico Nacional. Por suas manivelas e engrenagens aparentes entende-se que a peça é de fabricação grosseira, sugerindo seu alcance de fogo reduzido. Desta maneira, o canhão teria que ser posicionado próximo as linhas inimigas, deixando sua tripulação exposta, suscetível ao combate corpo a corpo ou fogo inimigo.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi um conflito iniciado por países europeus que atingiu uma proporção até então inédita de envolvimento de nações fora do continente na disputa por colônias e áreas de influência. De acordo com o jornalista e escritor José Francisco Botelho, "a 1ª Guerra foi realmente mundial - entre 1914 e 1918, 65 milhões de soldados de diversas línguas e etnias se enfrentaram numa monstruosa Torre de Babel erguida em meio a trincheiras e arame farpado. Jamais na história um conflito militar havia reunido ao mesmo tempo tantos combatentes e tantas nacionalidades. Amarrados uns aos outros por uma rede intrincada de alianças, como um grupo de alpinistas tateando à beira do abismo, quase todos os países da Europa mergulharam na carnificina (...)”.
Os quatro anos de conflito tornaram a morte uma equação matemática. Os efeitos de testemunhar um campo de batalha muitas vezes não são superados levando os soldados ao Estresse Pós-Traumático (TEPT) ou Trauma de Guerra.
Esta situação emocional conduz a paranoias, flashbacks do combate e delírios, muitas vezes impedindo a convivência em ambientes sociais.
Trazendo essa ideia para o contexto atual, no qual mais de 6 milhões de pessoas morreram infectadas pelo Coronavírus, entende-se um estado de guerra biológica. O vírus, inicialmente conhecido por atacar o sistema respiratório, foi adquirindo novos sintomas, um deles é o delirium – uma síndrome neurológica grave ligada a muitos resultados adversos do Covid-19.
As complicações ligadas ao delirium incluem maior tempo de ventilação mecânica e permanência do paciente no hospital, além de maior taxa de mortalidade.
fragrância: Delirium PBX00014JK
O delírio na teoria freudiana pode ser um caminho
para a realização de um desejo. Na elaboração deste cheiro incluímos a sede de poder econômico trazido à história brasileira pelos primeiros colonizadores em busca das riquezas desta terra.
Creosol. Cheiro fenólico, seco e dominado pelo cravo
que aguça o sabor e o olfato. Ylang-Lang flor alucinante que nos leva à loucura do delírio. Embriagante. No Cistus Labdanum Spain encontramos o doce do mel e o amargo do própolis como agentes estimulantes. O cheiro queima.
A adição do Jasmim nos conduz a mergulhar na obscuridade do delírio com um cheiro forte masculino do couro presente em trajes e utensílios dos colonizadores.